Desenho de estudos epidemiológicos: Transversais

Estudos seccionais ou de corte transversal são investigações que produzem um “instantâneo” da situação de saúde de uma população ou comunidade, com base na avaliação individual do estado de saúde de cada um dos participantes do estudo. Incluem como sujeito todas as pessoas da população no tempo da averiguação ou uma amostra representativa de todas essas pessoas, selecionadas sem levar em conta o estado de exposição ou de doença. Somente na fase de análise dos dados formar-se-ão os grupos, pois é nessa fase que se conhecem os indivíduos expostos e não-expostos que estão doentes ou sadios. Portanto, deve sempre ficar claro que os objetivos de um estudo seccional estarão sempre relacionados a uma população definida em um local e em determinada época. Necessitam de uma definição clara da população em estudo (denominador para o cálculo de prevalência). São de grande utilidade na realização de diagnósticos comunitários da situação local de saúde (úteis para planejamento em saúde e alocação de recursos), permitindo descrever variáveis e seus padrões de distribuição.

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A magnitude da frequência relativa do agravo estudado é importante na medida em que determina a quantidade de observações a serem feitas, de acordo com o grau de precisão desejado na inferência (doenças raras pressupõem um tamanho amostral maior que em doenças comuns). Em uma amostra de “n” indivíduos, selecionados aleatoriamente da população, a prevalência da doença é calculada dividindo-se o número de doentes pelo total de pessoas em estudo. Uma das alternativas de análise da associação entre a exposição e a doença é comparar a prevalência de doença nos expostos com a prevalência de doença nos não expostos. Se a primeira for significativamente diferente da segunda, de acordo com um teste estatístico apropriado, pode-se concluir pela alta probabilidade de existência de associação estatística entre exposição e doença.

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Para aproximar os estudos transversais de estudos longitudinais e facilitar a elucidação da relação causal, muitas vezes são coletadas informações sobre o passado dos sujeitos. Entretanto, há que se ter cuidado com a interpretação desses dados, seja pelo viés de prevalência, seja pelo nível de confiabilidade das respostas sobre estes temas, que nem sempre é satisfatório. Nos estudos seccionais, todas as observações são feitas em cada indivíduo em uma única oportunidade. Por isso, ainda que a construção do questionário procure revelar dados sobre momentos diferentes, as informações relativas a tempos passados são obtidas de forma indireta, isto porque dependem da memória e dos interesses peculiares dos indivíduos em relação aos temas de investigação (difícil padronização da coleta de dados e possível distorção das relações entre os eventos estudados).

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Esquema: População/Amostra

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Estudo transversal ou seccional

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  • Pessoas são estudadas em um determinado ponto no tempo, sem seguimento;
  • Estudo observacional em que exposição e doença são determinados em um ponto do tempo em uma dada população;
  • Representa um corte na evolução da doença e  evidencia sua magnitude, características e associações naquele momento específico;
  • A relação temporal entre exposição e doença não pode ser determinada.

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Estudo transversal: Por que fazer?  

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1.

Estimar a magnitude de eventos de saúde em uma população;

Medir: doença, acidentes, consumo de medicamentos, comportamentos relacionados à saúde, exposições ocupacionais, crença, história pessoal ou familiar, posição socioeconômica

Dimensão e gravidade dos problemas de saúde: definir prioridades.

2.

Investigar relações entre uma exposição e um desfecho;

Cuidado: não garante relação temporal entre exposição e desfecho;

Medida de associação: Razão de prevalências.

Cuidado: não interpretar como risco. 

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Um ponto forte desse tipo de estudo é que não é necessário esperar pela ocorrência do desfecho, o que faz com que esses estudos sejam rápidos e de baixo custo. Não é necessário o seguimento, evitando perdas. Os dados são coletados objetivamente e geralmente se referem ao momento do contato entre pesquisador e pesquisado. É uma boa opção para descrever características e eventos na população, para identificar casos na comunidade e para detectar grupos de alto risco, aos quais se deve dedicar especial atenção. Além disso, os estudos seccionais oferecem pelo menos uma vantagem evidente sobre outras estratégias de estudo com finalidades analíticas, sejam as observacionais, como os estudos longitudinais de coortes e de casos-controles, ou as experimentais, como os ensaios clínicos: a capacidade de inferência de resultados observados para uma população definida no tempo e no espaço (o que pode não ser permitido para outros estudos cujas amostras não são representativas da população).

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Uma limitação é a dificuldade em determinar o tempo de ordem dos eventos. Outro problema é chamado de amostragem com viés de duração ou viés de prevalência, no qual os casos identificados em um estudo transversal representarão em excesso os casos com longa duração e serão subrepresentativos daqueles com enfermidade de curta duração; há métodos analíticos para lidar com isso, métodos que requerem as datas de diagnóstico dos casos do estudo ou informações sobre a distribuição das durações da doença em estudo sobre níveis diferentes de exposição. São também pouco práticos para desfechos raros, em amostras populacionais, por exigirem um n muito grande. O fato de medirem apenas prevalência, e não incidência, limita sua capacidade de estabelecer prognóstico, história natural e causalidade; apesar disso, a incidência pode, em alguns casos, ser calculada, tendo-se em conta a relação entre prevalência, incidência e duração da doença. Há ainda a possibilidade de que haja erros na classificação, ou seja, os casos não sejam mais casos no momento da coleta de dados. Além disso, dados da exposição atual podem não refletir exposições passadas. 

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Vantagens

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  • Estimativa da prevalência;
  • Logística mais eficiente;
    Relativamente rápido (no follow-up required).
    Grande número de participantes: grandes inquéritos.
  • Medir várias exposições e várias doenças; 
  • Em geral, permite generalizar resultados.

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Desvantagens

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  • Necessita de um elevado tamanho amostral quando a doença ou exposição são raros. Se P=1%, necessário 100 pessoas para ter 1 pessoa doente;
  • Não adequado para doenças raras;
  • Não é adequado para doenças de curta duração;
  • Não é adequado para situações em que doença/exposição mudam ao longo do tempo;
  • Ausência de temporalidade
  • Inclui somente indivíduos vivos no momento do estudo.
    Viés Prevalência-Incidência.

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Quick-Game:

A Pesquisa Nacional de Saúde, inquérito populacional com periodicidade de  5 em 5 anos, seria um estudo transversal?

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Larissa F. Araújo

Professora, PhD em Epidemiologia | Nutricionista, mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa, doutora e pós-doutora em Epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais no qual participou do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto-Brasil. Foi pesquisadora visitante no Rotterdam Study conduzido pela Erasmus MC em Roterdam na Holanda e, atualmente, é pesquisadora e professora na Universidade Federal do Ceará na área de epidemiologia e bioestatística

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